Você sabia que a probabilidade de alguém lançar uma hack casual de Super Mario World é extremamente baixa? Ao contrário de Kaizo, uma hack tradicional exige não só o conhecimento de uma ciência obscura como a paixão do autor. Paixão pra encarar meses ou até anos de desenvolvimento. Se os jogadores estiverem com sorte talvez role até uma demonstração.
Desafiando as estatísticas com fontes questionáveis, o autor Idunno parece ter ouvido as minhas preces. Após anos de desenvolvimento ele entrega durante a C3 deste ano a sua mais nova hack chamada Glow. Um projeto do qual despertou a minha curiosidade desde o começo, eu nem durmo direito só pensando se o autor iria terminar o projeto. Mas está aqui, com a glória eterna!
Vamos começar esta resenha dizendo que o jogo de hoje possui um universo criado pelo próprio autor. Se você jogou Sicari e se perguntou se teria mais... bom, agora tem! Por aqui o jogador encarna em Gloria, uma mocinha alegre cuja missão é recuperar as cores que pintavam o seu vilarejo. Sim, da noite pro dia uma bruxa roubou as cores da cidade e agora a confusão está armada.
Que por sinal a tal bruxa nada mais é do que a irmã revoltada da protagonista. Se você sabe inglês e gosta de ler as cutscenes vai descobrir que tudo começou por desavença familiar. A vilã estava tão deprimida vivendo em seu mega castelo que acabou fazendo o que fez para chamar a atenção da sua querida irmã. Seria o conflito uma manifestação melancólica do autor?
O autor disse que os visuais foram inspirados em jogos da era Game Boy Color, tanto é que até o limite de cores é semelhante. Não vamos ser tão críticos assim ao ponto de contar cada cor por pixel, mas a evidencia é que o jogo possui sim o apelo. A parte negativa é que a fluidez das animações quebra um pouco a imersão mas não chega ser o fim do mundo.
Os gráficos foram desenhados pelo autor, desde a grama minúscula até o castelo que se encontra no mapa. Temos aqui um novo gráfico de personagem jogável, o que é ótimo para o que oferece. A parte negativa é que se você não tiver um bom olho não vai saber diferenciar a mocinha pequena da grande, já que ambas são 16x16. Caso você tenha dificuldade, não se assuste.
A diferença é que surge uma auréola na cabeça da mocinha.
Seria ela um anjo? Hmmm...
Deu pra ver que o jogo é coisa de emo?
A trilha sonora se contradiz no momento em que o repertório é composto por sucessos de boa qualidade. O autor procurou utilizar alguns sucessos com instrumentos simples na tentativa de tornar a experiência sonora mais simples possível. É legal ver o que conseguem fazer com os instrumentos originais hoje em dia, mas um pacote estilo chiptune seria ideal.
A melancolia aventureira do jogo se reflete nas franquias escolhidas pelo autor. Encontramos aqui sucessos de Tower Of Heaven, Touhou, Kirby, Earthbound e musicas populares que todo mundo já usou em certo momento do SMWhacking. Enquanto os estágios são tristes os castelos demonstram perigo eminente, um contraste interessante.
A jogabilidade é tradicional, entretanto os estágios foram desenhados como uma maratona habilidosa. O jogador entra no estágio, se depara com um tipo de obstáculo e vai rebolando como pode. Existe uma certa progressão de dificuldade nos estágios conforme você supera um obstáculo. A inclusão de Retry Patch e ausência de sistema de vidas facilita a vida dos desastrados.
Cada estágio por sua vez é organizado em cinco salas. Encontramos no que seria a metade do estágio o checkpoint, visualmente representado por uma Burdock. Infelizmente o estágio salva apenas a sua posição. Se o jogador quiser encontrar a saída secreta vai ter que encontrar os colecionáveis sem morrer e isso vai ser uma dor de cabeça para alguns jogadores.
O jogo não deixa claro a importância de tais fragmentos.
Você vai descobrir o motivo em breve.
Para o meu espanto o jogo não possui uma variedade interessante de chefes. Primeiro você enfrenta dois idiotas para poder enfrentar a bruxa. Antes de enfrentar a bruxa será preciso lutar contra os dois idiotas novamente, porém desta vez eles estão mais lerdos. Será que eles estão implorando para serem derrotados? Primeira vez que vejo um chefe pedindo pra morrer...
Enfrentar a bruxa foi bem legal porque ela possui vários estágios de poder. Pelo menos, mais que um. Pra um chefe final ela é bem comportada, sem qualquer truque barato. Adorei a arena dos chefes. O autor conseguiu criar uma certa identidade visual que combinasse com os vilões. Caso você não tenha coletado todos os fragmentos secretos algo ruim vai acontecer.
Para revelar o chefão final será preciso coletar todos os fragmentos de cada estágio normal... sem morrer, claro. O personagem será teletransportado pra uma sala sinistra com uma chave e uma fechadura. Você precisa fazer isso seis vezes e depois superar os estágios secretos na ordem que desejar. Os estágios secretos são divertidos e criativos:
LIME HOLLOW é a mais bonitinha. Possui uma proposta de matar aranhas e se agarrar em teias, bem legal. Foi a primeira que destravei e a primeira que joguei.
TEAL RUINS é obviamente uma referência a legendária hack brasileira do Cleiton. Possui o visual do segmento dos espelhos e a ilusão da caverna. Bom gosto, eu diria.
SAPHIRE CYBERSPACE é um estágio mais futurista, bem azul. Possui a melhor música do jogo e os obstáculos requer atenção total do jogador.
PINK GARDENS é o seu típico bosque com munchers, só que rosa. É um estágio fácil se você conseguir ignorar as plantas que metralham bolas de fogo.
BROWN BATTLESHIP foi um estágio que me surpreendeu: a melhor música do Megaman X e uma gimmick de barco? Conte comigo.
MUSTARD MINE é o estágio que sela a piada que toda hack tradicional precisa ter um estágio de mineração estilo Donkey Kong Country. A física é estranha, mas jogável.
E então temos o último estágio colorido, o VIOLET VESTIGE. Diferente dos desafios anteriores, o lance aqui é tentar não cagar nas calças. A vibe por mais bobinha que pareca consegue meter medo em qualquer malandro. Assim como a Regina Duarte, eu também estava com medo. Sim! Eu acabei de fazer uma referência mais velha que um jogador de Fortnite.
O final verdadeiro, digno de cinema, é revelado após derrotar o chefão final. Mas pra chegar até lá será preciso desbravar alguns estágios especiais em uma galáxia distante. Em seguida a irmã da protagonista vai dar um suporte rápido durante o estágio inicial da batalha. Quando tudo parecia concluído o chefão fica feio que dói e a música fica sinistra. Ferrou, mermão.
O chefão final possui uma arena diferenciada com efeitos legais. Vou logo avisando que aqui a criança chora e a mãe não escuta: seja lá quem programou essa coisa passou dos limites. O chefão usa o alfabeto grego como defesa e cada letra possui um ataque diferente. Quanto mais perto de morrer mais rápido os ataques se tornam. Desafiador, quase frustante.
E então o jogo termina. O fim.
Gentil do autor em agradecer os jogadores que aguardaram anos pela versão final.
Chegamos até o final, mais uma vez. Desta vez a experiência me causou uma certa estranheza, como se o produto final não fosse tão diferente assim da versão demonstrativa. Pensei que o jogo teria vários mapas ao invés de apenas dois. Enfrentar os dois chefes novamente no último estágio deixou um gosto amargo na boca. Não havia necessidade de criar uma demonstração, entende?
Não tenho certeza mas acredito que a melancolia da aventura pode representar alguma coisa especial para o autor. Todo artista manifesta o inconsciente em suas obras, eu mesmo faço isso ás vezes. Fazer algo criativo cansa, mas quando você se esgota emocionalmente parece uma tortura. O meu ponto é que ver algo tão íntimo assim de graça chega ser um privilégio.
Eu recomendo a hack de hoje para todos os jogadores que buscam uma aventura original no Super Mario World. A dificuldade não é absurda e desafia os novatos a tentarem algo mais louco. Quem sabe o pessoal do Kaizo goste de alguma coisa? Não sei. O melhor de tudo é que essa aventura se encontra em uma ROM de apenas 2MB. Tem coisa melhor do que isso?
Calma aí, fera.
Pontos Positivos:
+ Conceito diferenciado pra uma hack.
+ Universo 8 bits desenhado pelo autor.
+ Estágios desafiadores com Retry Patch.
+ Trilha sonora cativante.
+ Os chefes são bem legais, principalmente o verdadeiro final.
+ Conteúdo bônus pra quem se importa com a coisa.
+ Tudo isso em uma ROM de 2MB. :)
Pontos Negativos:
- A melancolia da história pode não agradar muita gente.
- Estágios são longos demais em relação á dificuldade.
- Destravar o final bom depende da habilidade do jogador.
Sugestões:
* Salvar as luas individualmente ajudaria bastante, sabe...
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Dificuldade: ★★★★☆
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Gráficos: ★★★☆☆
Jogabilidade: ★★★★☆
Trilha Sonora: ★★★★☆
Criatividade: ★★★★☆
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Nota final: ★★★★★★★☆☆☆
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Download: SMWcentral.net
Você é a cor que faltava em minha vida.
Como estou romântico hoje.










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