Eu sei que parece piada mas é verdade.
Antes tarde do que nunca, né?
Estava eu tranquilo desenhando para um dos meus jogos quando durante o intervalo do Telecine surge o comercial do filme. Para a minha surpresa o filme ia passar naquela mesma noite então nem perdi tempo. Deixei tudo de lado, me enrolei como um empanado no meu melhor cobertor e me preparei para assistir algo que tanto queria. Quando saiu nos cinemas aqui do Brasil eu estava ocupado demais enfrentando um exército de tomates ninjas, logo não deu pra ver. Mas o que estamos esperando? Vamos conferir o que achei do filme.
Qualidade espantosa de imagem... em 480p
Deve ser muito engraçado começar avaliando um filme planejado pra televisões ultra modernas no momento em que eu revelo que a minha televisão mais moderna é de 2010. Vocês por acaso se lembram quando as primeiras telas planas começaram a ser comercializadas e a tela era tão resistente que dava pra usar como pandeiro? Pois é. Mas eu percebi outra coisa importante durante o filme: os visuais são maravilhosos.
Mesmo em 480p foi possível perceber a qualidade visual do longa-metragem. Desde o detalhe do jeans do macacão do Mario até o reflexo dos apartamentos... tudo. Eu percebi que o departamento visual não estava pra brincadeira (o que é uma pena porque eu perdi boa parte das texturas). Enquanto isso os tons são vibrantes e imersivos. O que é era pra ser assustador (tipo o Reino Koopa) ganha vida através de uma apresentação visual impressionante. O mesmo vale pro Reino Cogumelo: nunca imaginei que veria o Super Mario 64 desta maneira.
Tudo no seu tempo... eu acho?
Não vi nada de errado com o pacing do filme. Algumas pessoas comentaram na internet que o filme era muito rápido, como se a Nintendo quisesse comprimir muito conteúdo em apenas algumas horas. O que eu percebi foi que em certos momentos o filme parecia esquecer dos próprios diálogos. Um exemplo foi durante a cena que faz referência á Berserk onde Peach fala algumas baboseiras com a Fireflower e fica encarando Mario em silêncio. Foi como se os dois estivessem esperando alguém dizer alguma coisa importante e no fim não acontece nada importante durante cinco segundos.
Entretanto a progressão do filme só pode ter sido idéia da Illumination. Veja bem: no momento em que Mario se separa de Luigi, duas linhas são criadas. O filme se divide por um tempo pra mostrar a jornada heroica de Mario enquanto Luigi sofre nas mãos de Bowser. São diversos conflitos minúsculos que no grande clímax se cruzam formando o conflito inevitável. A última vez que vi algo similar foi quando assisti Pets 2 em 2019, apesar que esta sequel não foi grande coisa.
A dublagem brasileira fez milagres
Anos atrás quando eu vi o trailer pude ver a recepção negativa do anuncio oficial. Com tantas pessoas talentosas dando a voz para personagens no youtube ou na TV a Nintendo resolveu chamar um grande elenco que para os brasileiros pode não ser grande coisa mas pros norte-americanos (USA) era. Jack Black é um monstro carismático (quem não se lembra do filme Escola Do Rock) e Charlie Day é famoso por esse meme aqui. Pelo que analisei alguns atores como eles estavam confortáveis exagerando a voz pra dar vida aos personagens... ao contrário do Chris Patt (ele é legal).
Mas nada se compara ao trabalho de quem realmente sabe o que está fazendo. Gente que valoriza a responsabilidade, que se importa com o filme. Eu não sei outros países mas a dublagem brasileira fez milagres mais uma vez. Mario e Luigi tinham um leve sotaque italiano que muitos jogadores esperavam ouvir em outras versões. O cara que dublou o Bowser fez um belo trabalho e a dubladora da Peach combinou perfeitamente. Eu não gostei muito da voz dos Toads mas não é como se eles fossem TÃO importantes assim pro filme. É nessas horas que dá orgulho ser brasileiro.
Alguma coisa sobre irmãos
Se existe uma coisa importante retratada no filme é a família. Você pode não entender ou até não se importar mas na minha terra a família é mais importante do que a vida da gente. Irmãos que se odeiam é o tipo de coisa que faz o seu avô chorar no almoço de domingo. Esse clima de guerra, de inveja e outras coisas negativas é horrível mas que infelizmente é rotina pra muita gente. Como alguém que possui a melhor família do mundo ver tais cenas foi perfeito.
Mario nasceu segundos primeiro e mesmo sendo ridicularizado o coração dele é bom o suficiente pra proteger os outros. Luigi não possui tanta confiança no próprio taco e precisa da presença do irmão mais velho pra poder ser quem ele é. Como irmão e o primo mais velho da minha geração foi legal ver a execução de uma harmonia parental tão alta. Em tempos em que a mídia faz questão de destruir valores antes protegidos em troca de dinheiro chega ser emocionante ver Mario e Luigi agindo como irmãos. Porque a verdade é essa: família é tudo. Não tô falando daquela telenovela...
Princesa Peach: era ela mesma?
Antes mesmo de ver o filme no conforto da minha casa já era possível sentir os calafrios dos comentários que vinham da internet. O pessoal estava adorando o espetáculo colorido e decepcionado com a qualidade dos dubladores. Mas era ela, a Princesa Peach, que preocupava milhares de fãs. A edição com seus melhores momentos fez o pessoal acreditar que ela estava machona, que não precisava mais de ajuda, enfim... Peach agora era uma Girlboss. O que isso significa? Significa que o medo de ver o nosso carismático herói ser humilhado era REAL. Mas será mesmo?
Vamos imaginar que você é uma criança criada por um povo distante e por ser especial é coroado. Você agora representa o reino mais importante, carregando um legado e uma economia invejável. Certo dia em uma reunião seus compatriotas apresentam Rei Bowser como uma ameaça não só ao seu reino mas aos demais. Após incessantes confrontos a grande tartaruga usa seu charme desajeitado pra negociar uma possível aliança... o que é uma roubada porque só assim Bowser conseguirá duas coisas: a expansão mortal do seu império obscuro e uma linda esposa.
Onde eu quero chegar com tudo isso?
Muito simples.
Durante o filme o telespectador percebe que Peach já estava acostumada com toda aquela situação. Ela não ficou impressionada com a presença de outro humano como incentivou ele a provar o seu potencial. Lentamente Peach foi se abrindo emocionalmente, demonstrando o que poucos conhecem por sensibilidade. Não só ela estava preocupada com Mario mas acima de tudo o lar que lhe acolheu, o Reino Cogumelo. É preciso lembrar que esta é a primeira vez que todos personagens cruciais se conhecem então desenvolver em poucas horas o que jogadores já sabem faz anos é questão de paciência.
Se você (assim como eu) esperava uma atitude mais intimidadoramente política, misandria mesmo... então ficou preocupado a toa. Nós até podemos ficar com um pé atrás com produtores ocidentais, principalmente depois que a indústria ocidental resolveu deixar tudo feio e sem graça. Mas a Nintendo? Como duvidar dos criadores do Universo Mario? Miyamoto jamais deixaria uma má interpretação ser aprovada internacionalmente. Nem eu deixaria! Humilhar o Mario não seria apenas humilhar uma multidão de fãs, seria também cuspir na imagem internacional que ele representa.
Rei Bowser: um vilão verdadeiro
Desde que eu era criança por alguma razão eu achava o Bowser incrível. O desgraçado do Koopa é literalmente uma aberração. Somente uma tartaruga enorme que cospe fogo para se tornar o maior inimigo de um encanador baixinho do Brooklyin. Sempre achei esse contraste interessante: Mario se sentia pequeno por fora mas Bowser apesar de tudo se sentia pequeno por dentro. É possível ver isso nos momentos em que ele demonstra seu lado romântico (do jeito dele). O filme conseguiu re-imaginar um lado mais brutal, algo que fizesse ser temido por todos.
E foi essencial porque até então a imagem que eu tinha pelos jogos da Nintendo é que merecia ser o chefão final... pelo tamanho. Se você se esforçar vai perceber que por algum tempo ele foi retratado como alguém perigoso, mas cômico (principalmente na série Paper Mario), Mas aqui? Neste filme? Totalmente brutal. Se você deletar as cenas do piano o desgraçado não tem pena de ninguém. Bowser é mais perigoso do que um policial bêbado, ele vai fazer o que for preciso pra conseguir o que quiser. A sua reputação vem do medo e não do respeito. Esse tipo de coisa define o personagem.
Falando nisso a lealdade do seu exército é impressionante.
Ninguém teve coragem de cogitar em golpe... incrível.
O macaco burro é burro mesmo!
Não acredito que o papel do DK no filme foi importante. É como se a Nintendo quisesse introduzir os primatas no filme como referência mas logo depois questionaram a possibilidade de agregar mais trabalho para a terra do gorilão. Talvez o lance de visitar outro reino por causa de uma aliança temporária foi uma boa desculpa pra mostrar o clima dos primatas. No começo eu estranhei o tema indígena do Hawaii até eu me lembrar que eu apenas joguei a trilogia de SNES. Mas se tem algo que merece um parágrafo exclusivo é a caracterização do DK.
Eu imaginei que a melhor forma de fazer justiça ao nome seria misturar força bruta com estupidez. No filme além de agressivo DK é preguiçoso e exibido. Ele adora uma platéia e a platéia o venera. Afinal estamos falando de um herói de outra franquia. De longe a sua atitude me lembrou aqueles idiotas bombados que vão pra academia venerar o próprio corpo (o famoso bolas de aço, sem miolos). Entretanto na tentativa de desenvolver o seu personagem o macacão aqui mais tarde demonstra um pouco de sensibilidade... como se ele fosse incompreendido, sabe? Infelizmente não me convenceu.
Pegou a referência?
É verdade. O filme possui inúmeras referências que fará qualquer fã da Nintendo saltar da poltrona. Desde a presença da Pauline como entrevistada até as migalhas irrelevantes que acontecem na paisagem. Tudo isso é um prato cheio pra quem vive de Nintendo. Enquanto eu considero isso um ponto positivo por outro lado eu achei um tanto intrusivo. Quero dizer, o filme em si é bom mas o que era pra ser apenas um detalhe se tornou uma obsessão. Foi como se o diretor tivesse mais preocupado em impressionar os fãs do que contar uma bela história... se bem que estamos falando de Mario, certo? Yeah...
Entendo perfeitamente que a Nintendo queira limpar a imagem negativa daquele filme dos anos 90. Sendo honesto não é tão ruim como dizem mas continua sendo uma das piores adaptações já feitas. Naquela época o diretor que mal conhecia a source converteu algo simples e colorido em uma visão futuristicamente depressiva, que em nada combina. Ao contrário do filme de hoje, que é extremamente carismático e vibrante. O que esperar de um filme onde a trama se repete inúmeras vezes? Se você ignorar a série de RPG as aventuras do bigodudo não são nada criativas. O povo tá cansado, quer novos personagens, novos conflitos.
Mas não... tome aí a sua referência.
Não gostou? Tome aí outra. E outra... e mais outra...
Em primeiro lugar este filme foi feito especialmente para os fãs da Nintendo. Ou seja: para poder desfrutar de boa parte do conteúdo o telespectador precisa entender o que está acontecendo na telona. Por exemplo: o meu pai (que só reconhecia o Mario por causa do Super Mario 64) além dele perder o interesse rápido o velho ainda me interrompia pra perguntar que personagens eram aqueles e onde estavam. Dai enquanto eu assistia o filme eu dava uma breve explicação, apesar que o interesse dele não era lá grande coisa. Mas será que existem outros motivos?
O mesmo não acontece com outros filmes como Sherk. A premissa dos filme é bem fácil de assimilar já que é uma sátira de contos de fadas. Fora que a ideia inteligente de colocar personagens infantis em situações cômicas que só adultos entendem é uma arte esquecida no entretenimento atual. Só que Mario não é apenas um personagem carismático, ele é a representação de um monstro da indústria. Por essas e outras que eu senti um certo pingo de artificialidade durante o filme. Foi como se os personagens estivessem fingindo, não era algo genuíno. É uma experiência perfeita para crianças mas vazia para adultos.
Mas querem saber? Eu gostei bastante. Tanto é que aguardo ansiosamente para o segundo filme, este irei ver no cinema. Tomara que façam alguma piada envolvendo a relação do Yoshi e as controvérsias geradas pela PETA. Acredito que este será um bom momento para introduzir os Koopalings e o pilantra mais descolado da franquia: Wario. Quem sabe a marrenta da Daisy não aparece pra fazer a alegria dos fãs? Afinal, se é pra fazer um novo filme que seja pra desenvolver outros personagens em uma nova aventura. Tatanga se tornar vilão por um dia não seria má ideia.
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