26/05/2025

Super Mario Yggdrasil


Se você pensa que jogar RPG's é divertido deveria imaginar o trabalho que dá pra fazer um. Não importa se é de tabuleiro ou virtual: é muita coisa pra cabeça do desenvolvedor. É por essas e outras que sou grato por jogar Skyrim: é um jogo gigante, existem inúmeras mecânicas e uma história tão interessante que até hoje não terminei as missões principais. Ou você acha mesmo que vou matar o meu brother Parthumax? Negócio é virar lobisomem e se casar com a Lydia.

A hack de hoje foi desenvolvida e compartilhada na web por IventalGames.
Por favor, contemplem a resenha de hoje.


O projeto de hoje é um daqueles jogos em que existe toda uma lore pro jogador consumir ao longo da jogatina. O autor escreveu uma história inspirada em Ragnarok, o apocalipse da mitologia nórdica. Resumindo a parada: Mario, Thor e Ragna precisam iniciar uma jornada em Midgard para fazer um desejo que impedirá o inverno eterno (ou algo assim, não sei).

Mario é o líder dos Runeblades, grupo chefiado por Odin. Eu não quero dar spoilers, mas o protagonista é o equivalente ao protagonista do filme The Grey. Ao contrário da imagem perfeita estilo Golden Axe por aqui os heróis são tão humanos quanto parecem ser: Thor é um guerreiro alcoólatra e Ragna, uma mulher reclusa. Até Ratatoskr tem personalidade por aqui.

Por mais que eu não entenda nada de mitologia nórdica eu fiquei impressionado com o cuidado do autor. Cada detalhe, até o mais bobo que pareça ser, foi escrito e disponibilizado para leitura dos jogadores atraídos pela proposta do projeto. Existe estágios dedicados para ver cutscenes longas ou ler livros. De fato parece que estou jogando um daqueles jogos feitos no RPG Maker 2003!


Ao final da história todas as pontas se fecham. Nenhuma ponta solta, todos os personagens chegaram até um lugar e até o esquilo laranja aprendeu alguma coisa. Isso é ótimo. Existe alguns clichês, mas eles não interferem tanto assim. Mesmo previsível não haveria outro final possível para o protagonista, afinal o clima de guerra suprime as emoções dos guerreiros mais atormentados.

Entretanto, o autor cometeu duas mancadas: erros ortográficos e poluição visual.
Permita-me explicar a situação, sim?

Erros ortográficos prejudicam a percepção da obra, não importa a qualidade ou o tema da história. É um pensamento automático. O leitor se sente confuso ao perceber que tal maravilha foi escrita por alguém de educação pobre. Você me entende? É amador. Se você gosta de escrever, gosta de contar histórias então domine o básico primeiro.

Por outro lado a apresentação visual não é tão boa sim. Por mais que a fonte seja a mesma do jogo original o autor complicou a leitura inserindo as frases em uma camada superior a do chão que, geralmente, possui algum tipo de textura granulada. As falas não possui um espaçamento apropriado, formando assim aquele muro de texto chato de ler.


Entretanto o autor cogitou que nem todos os jogadores gostariam de ler a sua história. Mesmo com um sistema arcaico (do ponto de vista de um desenvolvedor) é possível escolher se vai querer acessar uma cutscene ou não. Logo no começo de alguns estágios existe uma porta amarela com uma moeda no topo. Aquilo é uma cutscene. Se a moeda for azul é uma cena bem longa.

Existem estágios dedicados apenas para isso, indicados no mapa com um acampamento. Como jogador eu gostaria bem mais do que isso, eu queria saber o que os meus amigos da equipe estavam pensando da jornada. Gostaria de poder "comprar" comida na fogueira, gostaria que a Ragna usasse a sua magia pra dar uma vida extra ao jogador. Tem potencial, mas não é uma necessidade.


Em primeira vista é um projeto semi-baunilha. Os gráficos novos são discretos, alguns originais e outros não. Ás vezes surge alguma arte original da Gamma V, ás vezes alguma arte de outro jogo. É uma combinação visual ingênua, até parece que o autor estava aprendendo a usar o Lunar Magic durante o desenvolvimento. Arte dos NPC's seguem o estilo do protagonista.

O mapa em si é bem quadradão. Se você for crítico igual ao Devazure vai querer chorar, mas caso seja apenas um jogador comum não vai se importar tanto. Afinal, o mapa cumpre o seu papel. Acredito que as cores poderiam receber um melhor tratamento, especialmente o mapa vulcânico. Gostei dos novos ícones, principalmente a tenda do acampamento.


A trilha sonora é boa, mas não é perfeita. As músicas unsampled possuem uma variação curiosa de qualidade, acredito que devido ao tempo de produção. As músicas sampled são as melhores, isto é fato. Alguns estágios possuem uma música tão baixa que não dá pra ouvir direito. Outros estágios a música é bem alta devido ao volume dos instrumentos. Balanceamento sonoro seria ótimo.

O que gostei foi como o autor utilizou o repertório musical. Se você ignorar que tema x pertence a personagem Y de outra franquia... tudo se encaixa. Cenas tristes são tristes de verdade e até o miserável daquele esquilo laranja marcou presença com a música mais idiota possível. O autor criou o que nós chamamos de imersão, algo fundamental na conexão de uma obra com o leitor.


A jogabilidade não é das melhores. A experiência é tradicional, sem essa baboseira de kaizo. Boa parte da experiência consiste em chegar até o final do estágio andando em zig-zag porque o autor fez questão de repetir o mesmo tipo de percurso: o labirinto. Fora isso existem vários momentos onde Mario precisa explorar o estágio agarrando algum objeto. Por mais variada que a dificuldade seja o jogador espera criatividade na hora de ocuparem o seu tempo.

Os chefes são fáceis de serem derrotados... isto é, se você for um jogador veterano de SMW hacks. Basicamente Mario precisa esquivar e atirar um bloco no inimigo entre três ou cinco vezes. É possível enganar os chefes, como por exemplo o Fryguy azul: é possível preparar o próximo golpe porque o bicho congela após receber dano. Thor e Loki usam um sprite como ataque, praticamente o mesmo estilo de batalha. Se foi proposital... eu entendi a referência.

Porém existe um chefe em específico que demonstrou o potencial do autor como diretor artístico. Impossível comentar sobre sem avisar que é spoiler, mas dane-se: é minha resenha. Em certo momento Mario tem um pesadelo onde ele vivencia os eventos que desencadearam o trauma que o herói esconde durante o jogo. O simbolismo da batalha é tão sutil, mas ao mesmo tempo tão sensível que me passa a energia que o autor entende o que Mario estava sentindo.

Você pode até achar graça porque o autor usou SMW como medium.
Mas isso é arte. Eu aprecio bastante, sinceramente.

O jogo inteiro resumido em seis imagens.

Quero finalizar esta resenha afirmando que gostei da iniciativa do autor, porém esperava bem mais da sua execução. A proposta parece ser grande demais se comparada com o primeiro trabalho de alguém que descobriu Lunar Magic ontem. A história por mais clichê que seja não possui pontas soltas e até emociona o jogador. A jogabilidade repetitiva é segura demais para veteranos em busca de desafios, mas um porto seguro para quem apenas quer acompanhar o enredo.

Grande potencial, sem dúvidas. Principalmente se esta foi a primeira hack do autor. Daqui a cinco ou dez anos pode lançar um remake da hack que farei questão de jogar. Esse projeto merece um upgrade gráfico, um polimento sonoro e uma nova visão de level design. Não pretendo jogar-la novamente tão cedo, porém espero que jogadores mais casuais se divirtam com o seu projeto por muito tempo. Uma surpresa ingênua, eu diria.


Pontos Positivos:
+ Mario é o herói de uma aventura nórdica.
+ A trilha sonora é muito boa.
+ Estágios não possuem limite de tempo.
+ Excesso de power-ups facilita a vida dos novatos.

Pontos Negativos:
- Alguns estágios são longos e repetitivos.
- Não é possível sair de um estágio já superado.
- Ás vezes não é possível saber o que é chão ou decoração.
- Erros ortográficos atrapalham a leitura das cutscenes.
- Não é possível saber se o chefe está recebendo dano.

Sugestões:
* O sistema de cutscene poderia usar UberASM.
* Setas no mapa seriam ótimas para orientar o jogador.
* Contorno escuro significa sólido.

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Dificuldade:                      
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Gráficos:                           
Jogabilidade:                    
Trilha Sonora:                    
Criatividade:                     
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Nota final:         
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Download: SMWcentral.net

Versão brasileira, Hebert Richers.
Estrela bônus para deixar aquele incentivo aos brasileiros.

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