Sicari


Existem jogos que servem de porta de entrada para novos fãs. No meu caso que caí de paraquedas no mundo de Romhacking em 2014 tudo começou quando resolvi jogar os projetos da lendária Gamma V para mais tarde superar hacks até então consideradas normais pela comunidade. O jogo de hoje por exemplo passou despercebido por anos e só fui experimentar depois que joguei a versão remasterizada.

Hoje farei a resenha da versão original de Sicari, produzida e lançada por Eevee em meados de 2013. Para aqueles que conheceram a versão mais recente e consideram superior... muita calma nessa hora. Eu vou criticar a hack de hoje como se a versão mais recente não fosse real. Eu sei que isso parece impossível porque eu joguei o Remaster primeiro mas não custa tentar, não é mesmo?


A história narra a busca pela redenção de uma garota adotada por espiões assassinos. Para a segurança da garota ela foi treinada pra matar e até participou de várias missões, porém tudo isso consumiu a saúde mental da garota. Após conquistar a sua liberdade Sicari caminha sozinha em busca de redenção porém o retorno de antigos inimigos e a presença de velhos amigos vão exigir que ela retorne mais uma vez á ativa. É praticamente toda trama envolvendo crime organizado: o cara quer sair mas o crime não sai de você. Infelizmente é assim que funciona, baby.

Pois bem. Uma doida chamada Niscura certo dia acordou do lado errado da cama e decidiu abrir um portão satânico, unindo a dimensão dos humanos com os demonios cósmicos. A androide K-16 pede ajuda da nossa heroína que sem pensar duas vezes retorna pra sua casa em Paradia. Ela percebe então que o pau já está comendo feio faz dias, sendo questão de tempo para que o pior aconteça. Ao contrário do que a introdução diga K-16 não é jogável. Digamos que ela serve apenas como um elemento especial durante as fases, dizendo dicas ou explicando a situação.

Para os interessados K-16 recebeu seu próprio jogo.
A parte mais interessante? Era a continuação oficial do jogo de hoje.


Existem diversos fatores que destacam este projeto entre os demais. O primeiro é que a trama foi escrita pelo próprio autor. A segunda é que seus personagens são originais, isto é, nada de crossover com outras franquias. E a terceira é que os visuais foram desenhados pelo próprio autor (coisa que naquela época era uma estrela bônus por dedicação). Só quem desenha sabe qual é a dificuldade que é pra terminar os gráficos do jogador. É um trauma (não estou brincando).

Porém digamos que a recepção dos gráficos é um tanto mista. Veja bem: se você levar em consideração que eles foram feitos por um amador (o autor melhorou muito de lá pra cá) podemos dizer que os visuais são ótimos. Entretanto quando é pra errar, o autor erra rude. Existem fases (como o castelo de diamante verde) que em primeira estancia tudo é sólido. As decorações parecem se mesclar com o chão sólido e o que era pra machucar acaba se camuflando com o cenário. O fato que muita coisa usa contorno preto* não ajuda muito mas o autor tinha que começar de algum jeito, né?

*Um método antigo de animação era desenhar um contorno preto nos personagens pra realçar diante os cenários, geralmente feitos com cores puras em aquarela ou qualquer técnica de ilustração. Aqui tem um belo exemplo se a curiosidade bater.

Heroína dando sarrada no ar.
Negócio aqui é chute no saco e gira-teta.

A jogabilidade é similar ao jogo original, com alguns extras e poréns. Sicari consegue quebrar blocos com a bunda aka Ground Pound mas infelizmente não existem momentos legais pra se explorar tal mecânica. Por consequência o jogador simplesmente esquece que existe. Quando a guria consome uma ampulheta acaba por se transformar em uma ninja, disparando shurikens na horizontal. Enquanto a adição deste poder parece interessante o fato que poucos inimigos recebam dano das estrelas ninja é um pouco decepcionante. Até os chefes possuem esta invulnerabilidade.

A garota também consegue saltar entre paredes (algo bem explorado durante o jogo) mas que infelizmente gera interferência quando ela está fantasiada de esquilo. Esse traje simboliza a Feather do jogo original, porém sem a possibilidade de voar. Se não estou enganado o patch do Walljump era tão antigo que na época não tinha o que fazer com o bug da peninha (eu sei disso porque eu mesmo usei esse patch na minha primeira hack e falaram a mesma coisa). Ironicamente o autor justificou o bug como parte da lore. Esse é brabo.

Piores momentos.

Ao contrário do jogo original o projeto de hoje possui um sistema de HP similar ao jogo Metroid. Se o personagem receber dano vai perder um pedaço numérico da sua energia. Se chegar á zero a guria morre. Consumir poderes no jogo vai recuperar parte do HP mas não ao ponto de fazer a diferença. Com isso em mente a dificuldade é elevada devido ao Layout de alguns stages exigirem dano inevitáveis. Isso acaba se torna um mal necessário principalmente quando você quer sair correndo pra aproveitar os segundos de invencibilidade e terminar logo aquela fase pra nunca mais voltar.

A parte negativa deste sistema se deve ao fato que certos obstáculos ignoram completamente o seu HP, matando a guria instantaneamente feito miojo. Quando o jogador encontra lava é normal tomar um cuidado extra pra não morrer mas ninguém espera que espinhos façam a mesma coisa. Pra piorar tudo isso o autor resolveu usar espinhos em lugares apertados e escuros. Sabe aquelas fases em que é um breu e só existe uma lanterna? Tem espinhos por lá, também. Mas o agravante final é quando os mesmos espinhos são usados como decoração. Aí é sacanagem.


Ao contrário da versão melhorada esta versão possui uma apresentação mais crua. Os mapas lembram um pouco as rotas do Pokémon e o castelo final tem uma vibe estranha de Castlevania. Apesar de manter os pontos amarelos para indicar fases os canos deram lugar á buracos (como se a protagonista fosse uma topeira). A trilha sonora em geral não é ruim, até que memorável para sua época. Infelizmente não possui a qualidade necessária pra evitar problemas com emulação atual. Um jogo feito na era Zsnes usando músicas compostas por japoneses em AM4 não deu muito certo.

Isso significa que se quiser jogar isto daqui vai precisar ativar o hack do Snes9x.
Só vai simular a experiência antiga (mas não rola jogar no console).

Os chefes por sua vez são interessantes mas o nível de agressão variam bastante. Os mais fáceis são tão burros que conseguem se machucar sozinhos. O medianos não são tão ruins mas a situação vai ficar feia pro seu lado com tanto espinho na arena. O chefe final é horrível, com ou sem poderes reservas. Todos seus ataques afetam o HP então chegar até a batalha com pouca vida é pedir pra se irritar por nada. Os confrontos são rápidos e a chuva de bala é inevitável. Se existe um momento pra casuais passarem raiva é aqui, forçando o pessoal á apelar pro savestate.

Clássico momento do jogo.
Na versão Remaster tá 100x mais lindo.

É possível ver não só a dedicação do autor em extrair o melhor visualmente do projeto como também uma ingenuidade característica de quem possui um potencial do qual ele mesmo desconhece. O autor se deu o luxo de dar vida á um mundo que ele mesmo criou, coisa que hoje em dia muita gente não se importa. Infelizmente (ou felizmente) a hack de hoje foi esquecida no limbo, porque... bom, o autor fez uma versão melhor e todo mundo só fala na versão Remaster

Eu recomendo que vocês joguem a hack de hoje não só pra relembrar memórias seladas do tempo do IRC Chat mas pra conhecer a porta de entrada de uma série mod extremamente popular na comunidade internacional de SMWhacking. O pessoal mais casual que se amarra em uma tradicional vai gostar da premissa mas não tenho certeza sobre o pessoal que curte algo mais Kaizo. O mundo final é chato PRA CARAMBA mas se você chegou até aqui qualquer coisa é lucro.

Não fique com vergonha, Sicari.
Eu sei que você está escondida atrás do muro.
Pontos Positivos:
+ Gráficos originais desenhados pelo autor.
+ Trama original escrita pelo autor.
+ Personagens novos criados pelo autor.

Pontos Negativos:
- Ás vezes os visuais vão atrapalhar a jogabilidade.
- Hack tão antiga que as músicas explodem o emulador.
- Alguns chefes são mais injustos do que desafiadores.

Sugestões:
* Um REMASTER seria ótimo (podem rir agora).

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Dificuldade:                      
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Gráficos:                           
Jogabilidade:                    
Trilha Sonora:                  
Criatividade:                    
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Nota final:         
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Download: SMWcentral.net

Fiquei até cansado de escrever a palavra Remaster. Deus me livre.
Estrela bônus pelo fato do jogo ter gráficos originais.

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