22/09/2023

Peach Is Missing

Super Mario World ROM hack

Saudade. A palavra mais perigosa, mais usada nessa nova era em que pessoas preferem relembrar algo que já passou do que viver o presente. Mas isso é uma luxúria pois a vida é feita de memórias e só vive quem se lembra delas. E o que poderíamos fazer em relação á isso? Jogar uma hack de quase 10 anos atrás, principalmente se esta for uma hack para jogadores tradicionais, que fogem de Kaizos.

Hoje farei uma análise de Peach Is Missing, hack produzida faz muito tempos atrás por Aurel509. Projeto esse que ficou marcado em minha memória negativamente porque justo quando estava zerando o mundo 1 da hack meus dois gatos haviam morrido inesperadamente. Eu fiquei tão triste na época que nunca mais toquei na hack... bem, até hoje. Será que as más lembranças afetarão a análise? É o que veremos por hoje.


Assim como o próprio nome da hack, o projeto é bem simples: Mario precisa salvar Peach mais uma vez, sem a ajuda de seu irmão Luigi (porque sempre deixam o coitado de fora?). A hack possui 8 mundos, um deles é especial. É possível achar certas saídas secretas em algumas dela que levam o jogador para esse mundo que serve como atalho para o último mapa... que é o desgraçado do Koopa. Essa é uma das poucas hacks que usa esse gráfico aqui pro mapa.

O mais básico da jogatina é que o sistema de vidas está presente. E não apenas isso, o jogo também salva o seu farming de vidas (o que é bom). O autor inseriu também uma HUD peculiar da época, inspirada em DKC. Por boa parte da jogatina ela desaparece, ressurgindo ao coletar alguma coisa (ou morrendo). Aliás: aqui você tem tempo infinito pra buscar segredos e outras coisas. Parece que o autor buscou certa influencia em jogos de exploração, o que é legal.

 

Os gráficos são bons (não são maravilhosos, mas bons) porém achei que faltou mais polimento. Alguns mapas e fases possuem HDMA e se você não tacar alguns patches o treco vai sumir ou gerar um show lendário de foto-sensibilidade. Boa parte dos gráficos são bem datados, mas de um ponto positivo dá pra imaginar o ano em que foi lançada por causa deles. Nessa época Gamma V lançou gráficos inspirados em SMB3 que foram usados por muita gente na comunidade.

A trilha sonora por sua vez é boazinha. Ela não é ruim, pelo contrário, possui vários sucessos como Styla e a INFAME-DESGRAÇADA Here We Go!, só que o dilema está na qualidade do port. Quase todos eles parecem usar tecnologia AM4, o que é algo rústico para os padrões atuais. Se você é um daqueles que não se importa com música (contando que não exploda o emulador) então pode ficar sossegado que aqui é só alegria.

Pra você sentir a pressão, o jogo tem música de Undertale.
Undertale tem quase 10 anos, meu amigo. Tempo voa.


Algo que gostei foi que quase metade das fases tinha uma mecânica, algo peculiar pra fazer. Uma hora você está dando pulo carpado em inimigos que flutuam... outra hora, desbravando um castelo congelado com uma flor de fogo. O único problema de tudo isso é a execução: o autor cometeu alguns erros bobinhos de amador que ironicamente passou despercebido por algum moderador da SMWC. Eu digo isto porque na época moderação era rígida e qualquer besteira reprovavam seu trabalho.

As arenas dos chefes são ingênuas, mas criativas. Mesmo que você encontre o seu inimigo em um cubo retão parte do chão vai ter alguma coisa pra te matar. Um exemplo é a batalha contra o Boom Boom com seu chão de espinhos. O único problema é que nem sempre o jogo vai entender os movimentos dos chefes, fazendo com que eles desapareçam e você precise resetar/morrer. Vou logo avisando que a batalha final contra o Bowser é broxante.
 
Por alguma razão alguma coisa sempre acontece nas batalhas contra chefes.
Seria isso algum tipo de maldição?

Em geral a hack é mediana, ela não é tão hardcore. Se ela for difícil então a causa é a execução ingênua de suas idéias. O jogo começa e vai até a metade variando entre fases normais e difíceis (chega ser até chato) mas quando você chega no mundo 5, meu amigo... aos poucos o jogo começa a inventar situações de arrancar cabelos. Tem uma fase no último mundo que se você não relaxar e pensar um pouco não avança... literalmente!

O castelo final é aquela coisa de louco. Pra começar a hack te lembra que é velha quando a música que usaram pro castelo final é essa (você provavelmente já deve ter cansado de Brutal Mario á esse ponto) mas nada contra porque essa música é épica. O maior meme do castelo são seus quebra-cabeças, exigindo habilidades loucas do jogador (como subir uma trepadeira agarrando uma mola verde). Para veteranos da comunidade isso é moleza, agora se você começou ontem... é melhor você se preparar pra muita loucura.

Por falar nisso, o jogo tem bastante backtracking.
Se procurar a saída carregando um item não é sua praia, só lamento...


Sabe o que essa hack me lembra? Da minha primeira hack, lançada também á quase 10 anos atrás. Você vê: no começo o desenvolvedor só quer se divertir, ele fica eufórico com qualquer novidade e quer apostar todas as fichas pra compartilhar algo divertido e memorável. Se ele tiver habilidade (e um pouco de sorte) é capaz do seu primeiro trabalho conquiste a confiança de novos jogadores... mesmo que o que se fez não foi a melhor coisa do mundo.

Exatamente isso que vejo aqui. Eu vejo sangue, vejo paixão, inocência.
Eu vejo um produto de alguém que se divertiu (espero), um produto do próprio tempo.

Eu não tenho certeza se recomendo essa hack ou não. O que posso afirmar é que o autor teve idéias boas que se perderam no buraco negro da "Minha primeira vez". Tem fase que dá vontade de jogar novamente, outras o jogador nem quer mais ver. Não é um projeto monótono: sua variação se destaca mas erros ingênuos lembram o jogador que nem todo mundo nasceu sabendo e é preciso errar pra aprender. 

De qualquer forma, uma hack interessante que merecia ser refeita.

Que saudades dessa época...

Pontos Positivos:
+ Hack longa com fases curtas.
+ Level design variado, desafiando reflexos do jogador.

Pontos Negativos:
- Algumas fases possuem lentidão sem nenhuma razão aparente.
- É possível ficar travado ao lutar contra alguns chefes.

Sugestões:
* Seria bom saber diferenciar visualmente decoração de espinhos.
* Um remake tornaria essa hack melhor do que ela já é.

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Dificuldade:                      
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Gráficos:                           
Jogabilidade:                    
Trilha Sonora:                  
Criatividade:                    
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Nota final:         
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Download: SMWcentral.net

Um projeto que errou na medida que acertou.
O único problema dessa análise é que repeti bastante palavras. :/

19/09/2023

AVISO IMPORTANTE: NOVAS RESENHAS VINDO POR AÍ!

Arte da capa do melhor jogo de SNES
A primeira notícia a gente nunca esquece, né não?

Não é de hoje que eu faço resenha de jogos. 
Anos atrás eu fazia parte da Equipe Mario Hacks, grupo responsável pela comunidade brasileira de SMWhacking. A comunidade tinha (quero dizer, ainda tem) um servidor no Discord da qual fui responsável por alguns anos. Mais importante que isso é que a Mario Hacks publicava resenhas e reportagens em seu (hoje extinto) website desde 2008 e, durante os anos de 2016 em diante, fui responsável por mais da metade do seu conteúdo.

Como alguns de vocês devem imaginar, toda vez que alguém lança uma hack de Super Mario World na SMWCentral eu acabo jogando ainda em moderação, que é pra eu ganhar tempo e deixar programado aqui pro website. Mas convenhamos que não é lá a melhor ideia porque a moderação atual é mais lerda do que uma tartaruga: tem hack esperando mais de um mês para ser aprovada!

Mas não é sobre o passado ou a SMWcentral que venho falar hoje.
Eu anuncio uma iniciativa quem nem nome tem... se liga só.

Para evitar que a Nintendo Purple fique sem conteúdo programado (eu trabalho de segunda a sexta, fica difícil fazer conteúdo ás pressas) eu resolvi jogar, analisar e publicar em ordem hacks tradicionais compartilhadas á mais de 10 anos atrás. Isso mesmo: eu vou analisar desde a Tsunami Island até as mais recentes. Entretanto:
- O projeto pode ser curto, mas tem que ser completo (sem demonstração).
- O projeto não pode ser difícil ao ponto de ser "quase kaizo" aka injusto.
- Hacks mais antigas vão desapontar muita gente... esperem por notas baixas. :(

As resenhas de hacks serão publicadas oficialmente a partir de 13/10/2023.
Espero que vocês entendam a situação e boa leitura.

09/09/2023

Super Junkoid

Super Metroid ROMhack 2023 Junko

Você alguma vez já parou pra pensar se Super Metroid poderia ser mais anime? E quando eu digo anime não é apenas o traço e sim todos os detalhes bizarros que comprometem uma obra, desde o harém pra sujeitos carentes até a infame vampira de 3000 anos com corpo de criança. Se alguma vez você imaginou uma garota indefesa encarando monstros com tentáculos então a hack de hoje será mais do que interessante para você.

Super Junkoid é uma hack de Super Metroid lançada em 2023 por um tal de P.Yoshi (eu realmente espero que esse P não abrevie o que estou pensando). A hack conta a história de uma garota chamada Junko na missão de destruir uma serpente que ela um dia salvou de torrar no sol. A serpente ficou tão grata que perseguiu a garota até em seus sonhos, louvando a sua imagem como se a garota fosse um deus pagão ou algo do tipo. Aliás, a serpente é gigante.


Como alguém que cria hacks de Super Mario World é sempre bom ver até onde outras pessoas conseguem chegar sozinhas modificando outros jogos. A primeira coisa que reparei é que todo detalhe, inclusive a introdução, foi retrabalhada com novos gráficos, animações e cores. É um trabalho deveras impressionante devido ao esforço que o autor deve ter feito pra chegar ao resultado final.

Á começar pelos gráficos e animação: estupendamente criativo. Graças ao uso do verde com vermelho e outros tons frios dá pra perceber que a hack se trata de horror cósmico. O fato que você controla uma garota representada graficamente (e bem animada) como a maldita Toire no Hanako-chan só agrega ao fator horror do projeto. Se vocês tão boiando na conversa ela é tipo a nossa Loira do Banheiro.


A gameplay é mais simples que o próprio Super Metroid, pelo menos na orientação dos mapas e o caminho que você deve ir. Como é um jogo focado em exploração é claro que a primeira coisa que você precisa fazer é mover a sua bunda pra todo canto e rezar pra não morrer... mas em busca do que? O pessoal que está acostumado á jogar Metroid terá uma noção dos objetivos mas até aqui tudo foi virado de ponta cabeça que um guia seria perfeito.

Sua missão é derrotar um demônio.
Como? Não sei, se vira.

Você controla uma garotinha que dispara magia pelo pau... quero dizer, ela dispara magia por uma varinha mágica que é possível encontrar upgrades bizarros (se eu te falar que o tetudo do Baphomet me deu uma bola de baseball você acreditaria?). Fora que a garota, por alguma razão, consegue se transformar em uma ratazana tão rápida que você vai usar boa parte do jogo só pra acessar lugares secretos ou atalhos entre uma área ou outra.


Como o jogo não possui um guia então você tem que se virar nos 30 pra entender como certas coisas funcionam. A falta de comunicação entre o autor e o jogador fica evidente no momento em que você precisa perguntar para alguém como se salva o progresso. Eu sabia que era preciso "apertar pra baixo" de alguma coisa... mas qual? Em que lugar? No fim das contas eu descobri que era só dar um pulinho besta na plataforma da sauna mágica.

O mapa é separado por diversas áreas temáticas: gelo, corrupção, matadouro, sangue, laboratórios... por aí vai. Caso não consiga entrar por uma porta vai precisar voltar mais tarde com um certo upgrade (é uma progressão não-linear, mas bem simples). O visual é bonito, mesclando gráficos editados do próprio jogo, coisas do Castlevania com artes originais do próprio autor. Efeitos HDMA foram usados perfeitamente, ficou muito lindo na televisão de tubo.

A trilha sonora é praticamente inexistente por aqui.
Não que seja ruim, só não tem o que falar sobre.

O pau vai comer.

Vamos supor, hipoteticamente, que você adora mangás e horror. Vamos supor que um dia você encontrou um vídeo aleatório no youtube de uma hack interessante de um jogo que você raramente joga. Você não tem nenhuma informação sobre o projeto fora a sinopse deixada pelo autor. Você assistiu a introdução, percebeu que tinha anime, entendeu a premissa e foi direto jogar. Você então observa a pureza da protagonista retratada com nudez parcial na title screen e pensa "Isso é underground? Parece um daqueles jogos...".

Acertei na mosca.

Eu sabia que essa hack era de horror e tampouco a violência ou as imagens religiosas me incomodaram (eu até gostei). O que achei sinistro é que como a hack simplesmente existe na internet você não tem bola de cristal pra adivinhar que lá pela metade do jogo vai se deparar com uma carnificina satanista que deixaria LaVey decepcionado (falta sangue). Se a situação já é comicamente bizarra pra um jogador casual imagine então a vida de um streamer que tem mais medo da plataforma em que trabalha do que da própria mãe?


Em todo caso, eu gostei bastante da experiência. Apesar de gostar de exploração e conhecer Super Metroid eu jamais consegui zerar (fiquei travado em uma parte) então jogar Super Junkoid foi praticamente re-jogar o original pela primeira vez. Foi algo mágico, é como se você estivesse lendo um livro e retornando de tempos em tempos porque é fácil de se cansar quando objetivos não são bem claros... mas a sua vontade está lá. Você ignora o resto e apenas aproveita.

Como eu nem sabia que existia uma comunidade do jogo original eu procurei alguns comentários á respeito e ao que parece tem um pessoal mais preocupado que Super Junkoid não tem OST. Eu vejo que fora os mapas os gráficos foram prioridade, logo compor e inserir algo que não possui documentação leva muito, muito tempo. Fora que, se o autor for realmente japonês então ele já estaria se arriscando bastante (emulação é, aparentemente, crime no Japão).

Eu recomendo esse projeto. 
Selo Oh yeah, very good de qualidade.

Pontos Positivos:
+ Ambiente imersivo e misteriosamente sangrento.
+ Criativamente original, praticamente um jogo novo.
+ Anime.

Pontos Negativos:
- Inexistência de qualquer aviso sobre a presença de gore/nudez.
- Maldito seja o wall-kick original.

Sugestões:
* Deixar um arquivo de texto pro jogador não vai matar ninguém.
* Salvar o jogo poderia ser bem mais intuitivo.

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Dificuldade:                      
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Gráficos:                           
Jogabilidade:                    
Trilha Sonora:                  
Criatividade:                    
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Nota final:         
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Eu demorei dias pra encontrar esta ROMhack mas valeu a pena.
Ponto extra pela estética anime, eu pessoalmente gostei bastante.